sábado, 12 de julho de 2014

NÓS

Nós
Poema de Sebastião da Gama

Quem não quer vir, que não venha,
que o dó me faz perdoar ...
e persistir na Campanha.
Talvez,
quando eu já for percebido, se arrependam,
e a troça então se lhes mude
num sorriso constrangido.

Não venham, que eu vou por eles
e gritam por mInha boca suas bocas,
fechadas, ou por vergonha,
ou por orgulho, ou por falta
de aquela fé que me arrasta.

Descansem!
Se eu lá chegar, faz de conta
que quem chegou foram eles;
e faço da mu1tidão
a capa para os meus ombros;
e Deus, que não me distingue
(eu com todos me pareço),
pra não deixar-me sem prémio
há-de dar a cada qual
o prémio que eu só mereço.

Se eu lá chegar...
Mas eu chego!...
Nem que de aqui a trés passos
se me cansassem os braços
e as pernas se me partissem
e a vida se me acabasse,
ali, na terra, caído,
já eu teria chegado:
tanto vale minha Esperança,
que o Céu começa onde quer
que eu solte a última voz;
e a Mão que as feridas me afague,
no gesto de as afagar,
deixou as portas do Céu
abertas de par em par.

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