domingo, 13 de julho de 2014

ELEGIA DESTA MANHÃ

Elegia desta manhã
Poema de Sebastião da Gama

Eu sei de virgens
que só por mim foram virgens...
e que morreram assim ;
Eu sei de rosas viçosas
que viram seu viço inútil,
porque esperaram por mim
sem que eu as fosse colher ;
sei de caminhos
aonde a erva nasceu,
nos sítios em que deviam
deixar seu rasto meus passos
( e os caminhos eram claros
como rios ... ) ;
sei de palácios
onde o lume se apagou
e o musgo cresceu nos muros,
a aonde as almas das salas,
que ansiavam minha vinda
como princesas,
emurcheceram em pó ...

Não posso ser feliz ! ...
Não posso ser feliz ! ...
Mais nítida
que qualquer minha alegria.
há-de ser sempre a dor
de me lembrar
de as coisas que foram minhas
e foram lindas
e nunca as viram meus olhos ;
a dor
que é afinal essa mesma
que sentia cada uma,
quando esperava por mim
já sem esperança nenhuma .

Não posso ser feliz ! ...
Não posso porque não sei
de que serviu a beleza,
para onde foi a beleza
das coisas que já não são
e morreram de tristeza
de serem belas em vão ...

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