CORTINAS
Poema de Sebastião da Gama
Que a Morte, quando vier,
não venha matar um morto....
Quero morrer em pujança.
Quero que todos lamentem
a ceifa de uma esperança
- não sendo eu já de mim
nem de meu sonho também,
mas sendo um sonho já deles ;
já tão deles que hão-de crer
que o levantaram , tão seu
que, ao secar, lhes vai doer
e vai deixar
pedaços vivos nas mãos
( cristais quebrados rasgando-as ),
saudades vivas no olhar .
Quero morrer com os dedos
a quatro dedos do Céu,
pra que depois pensem que eu
só por morrer não cheguei,
só não cheguei por tração
( pra que não saibam que a Morte
foi a minha salvação )
Ai medo antigo que eu tenho
e só a mim, que entendo,
posso contar à vontade
não de o Céu não ser verdade
( meu sonho astral é tão grande
que, nem que fosse vazio,
meu sonho havia de encher
de céu
esse vazio sem fundo )
mas de se as asas partirem
antes do pano descido,
à vista de todo o mundo..
Como há-de ser bom morrer ,
suspenso lá nas alturas ! ...
Não vir cair na calçada,
de cabeça esmigalhada,
com lama, em sangue lavada,
nas mãos torcidas mas puras ! ...
Como há-de ser bom, não ser
preciso o Anjo descer
a este mundo
pra me levar ao meu fim !...
- Sem Se Deus bulir do Trono,
estende-me Sua Mão
e ao pé d'Ele logo estou :
que fique logo transporta
aquela mão de Infinito
que me faltou ;
que me faltou, mas baldou,
o medo antigo que eu grito .
Por isso, que a Morte seja
a força
que me não deixe cair
e se confunda
na mesma que me subiu.
Que eu morre em Glória prós meus
pobres irmãos , enlevados
em barata pasmaceira .
Que, quanto à Glória que eu quero
minha Glória verdadeira,
isso é comigo e com Deus ...
...e com Alguém
que é bem de mim, como eu sou,
e vive pra me encontrar,
porque os caminhos são tais
- pronde vem e pronde vou -
que, mesmo assim desiguais,
hão-de ter um certo sítio
em que passem de um só
Poema de Sebastião da Gama
Que a Morte, quando vier,
não venha matar um morto....
Quero morrer em pujança.
Quero que todos lamentem
a ceifa de uma esperança
- não sendo eu já de mim
nem de meu sonho também,
mas sendo um sonho já deles ;
já tão deles que hão-de crer
que o levantaram , tão seu
que, ao secar, lhes vai doer
e vai deixar
pedaços vivos nas mãos
( cristais quebrados rasgando-as ),
saudades vivas no olhar .
Quero morrer com os dedos
a quatro dedos do Céu,
pra que depois pensem que eu
só por morrer não cheguei,
só não cheguei por tração
( pra que não saibam que a Morte
foi a minha salvação )
Ai medo antigo que eu tenho
e só a mim, que entendo,
posso contar à vontade
não de o Céu não ser verdade
( meu sonho astral é tão grande
que, nem que fosse vazio,
meu sonho havia de encher
de céu
esse vazio sem fundo )
mas de se as asas partirem
antes do pano descido,
à vista de todo o mundo..
Como há-de ser bom morrer ,
suspenso lá nas alturas ! ...
Não vir cair na calçada,
de cabeça esmigalhada,
com lama, em sangue lavada,
nas mãos torcidas mas puras ! ...
Como há-de ser bom, não ser
preciso o Anjo descer
a este mundo
pra me levar ao meu fim !...
- Sem Se Deus bulir do Trono,
estende-me Sua Mão
e ao pé d'Ele logo estou :
que fique logo transporta
aquela mão de Infinito
que me faltou ;
que me faltou, mas baldou,
o medo antigo que eu grito .
Por isso, que a Morte seja
a força
que me não deixe cair
e se confunda
na mesma que me subiu.
Que eu morre em Glória prós meus
pobres irmãos , enlevados
em barata pasmaceira .
Que, quanto à Glória que eu quero
minha Glória verdadeira,
isso é comigo e com Deus ...
...e com Alguém
que é bem de mim, como eu sou,
e vive pra me encontrar,
porque os caminhos são tais
- pronde vem e pronde vou -
que, mesmo assim desiguais,
hão-de ter um certo sítio
em que passem de um só
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