quarta-feira, 18 de novembro de 2015









Nunca fala da vida
Poema de Sebastião da Gama

Nunca fala da Vida
sem que entristeça ......

- Mas as flores que morrem
nascem outra vez ...

Mas pela ardentia
zunem as cigarras ...

mas aquela moça
traz no ventre um filho ...

mas nas folhas secas
que há pelo Outono

( de olha-las a gente
quase entristecia )

já ninguém se lembra,
quando é Primavera . ..
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


 
 
 
 
 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

HAJA VERGONHA !

HAJA VERGONHA !
A Chamada Associação Cultural Sebastião da Gama que, não deve ter Fins Lucrativos , disputa com a Família de Joana Luísa Gama , a posse dos bens desta última , na Base da redação de dois testamentos contraditórios . Sebastião da Gama , foi um filão explorado , desde o Aproveitamento Político , ao Pessoal ,ou por inerência de funções na Associação . Sem ética , sem pudor , usando todos os meios para conquistar os respetivos fins . Enoja-me falar dos pormenores da manipulação dos sentimento de gratidão da então viúva do Poeta , conquistando palmo a palmo oque pretendiam : O Espólio Literário . Aproveitaram-se de todas as fragilidades inerentes à idade , ao estado de saúde vulnerável a todos os "Afectos" .
Sei agora que , a nova Direção da ACSG e, a outra parte, não chegaram a um Acordo prévio e, que , segue para paea Julgamento . GOSTAVA DE VER EXPRESSA A OPINIÃO DOS ALUNOS DE SEBASTIÃO DA GAMA , NO CASO DE HAVER ALGUM RESTANTE , VIVO , SEM SER EU - ( Olhar cara a cara, olhos nos olhos e, perguntar aquém está na Associação , de onde vem a Moral , de onde conheceram Sebastião ou Luísa Gama , para representarem com a Dignidade Exigível , o interesse pelos Bens Imóveis e a posse rentável do espólio literário de autoria do Poeta . Não lhes chega as "Homenagens" políticas , o Prémio com seu nome , desprestigiado, com centenas de exemplares , a apodrecerem , distribuídos como se fossem sobras ?
Meu Pobre Professor !
a) Joaquim Afonso Fernandes d'Oliveira( Zé Boneco , in " DIÁRIO" )



sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Foto de Mestre Oliveira.




Os que vinham da Dor tinham nos olhos
estampadas verdades crudelíssimas.
Tudo que era difícil era fácil ...
aos que vinham da Dor diretamente.
A flor só era bela na raiz,
o Mar só era belo nos naufrágios,
as mãos só eram belas se enrugadas,
aos olhos sabedores e vividos
dos que vinham da Dor diretamente.
Os que vinham da Dor diretamente
eram nobres de mais pra desprezar-vos,
Mar azul!, mãos de lírio!, lírios puros!
Mas nos seus olhos graves só cabiam
as verdades humanas crudelíssimas
que traziam da Dor diretamente.
AOS COLABORADORES DA PÁGINA E LEITORES

CONSTANTEMENTE   , A ASSOCIAÇÃO SEBASTIÃO DA GAMA , INVOCA JUNTO DO GOOGLE  DIREITOS DE AUTOR DE POEMAS DO POETA  SEBASTIÃO DA GAMA .

ESTE BLOG TEM COMO ÚNICO OBJETIVO PRESTAR A HOMENAGEM  DE UM SEU ALUNO AO SEU MESTRE .     NÃO ME MOVE FAMA OU LUCRO .
SOU E SERI CONTRA AS HIENAS E OS ABUTRES DE SEU ESPÓLIO .
FUI DURANTE ANOS CONTRA OS QUE GANHARAM  MEDALHAS E O VIL METAL CHAMADO ESCUDO E POSTERIORMENTE EURO À SOMBRA DE SEU NOME .  

TENHO PERTO DE 81 ANOS E UM CÂNCER . MAS NEM A IDADE NEM A DOENÇA DEIXARÁ DE ME LEMBRAR QUE FUI E SOU O " ZÉ BONECO" DO 2º 5ª  DA JOÃO VAZ  .
CONTINUAREI A PUBLICAR E A CADA UM QUE DENUNCIEM COLOCO 10 |

Joaquim Afonso Fernandes d'Oliveira ( ZÉ BONECO )

quarta-feira, 17 de junho de 2015

MEU PAÍS DESGRAÇADO

EM MEMÓRIA DO MEU PROFESSOR

MEU PAÍS DESGRAÇADO (Poema de Sebastião da Gama ,com mais de meio século , mas, actualíssimo )
Meu país desgraçado...
E no entanto há Sol a cada canto
e nã...o há Mar tão lindo noutro lado.
Nem há Céu mais alegre do que o nosso,
nem pássaros, nem águas ...

Meu país desgraçado!...
Por que fatal engano?
Que malévolos crimes
teus direitos de berço violaram?
Meu Povo
de cabeça pendida, mãos caídas,
de olhos sem fé
— busca, dentro de ti, fora de ti, aonde
a causa da miséria se te esconde.
E em nome dos direitos
que te deram a terra, o Sol, o Mar,
fere-a sem dó
com o lume do teu antigo olhar.
Alevanta-te, Povo!
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
a calada censura
que te reclama filhos mais robustos!
Povo anêmico e triste,
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
— olha a censura muda das mulheres!
Vai-te de novo ao Mar!
Reganha tuas barcas, tuas forças
e o direito de amar e fecundar
as que só por Amor te não desprezam!

sábado, 30 de maio de 2015

POR MUITAS DENÚNCIAS QUE FAÇAM EU NÃO DESISTO

POR MUITAS DENÚNCIAS QUE FAÇAM ... EU NÃO DESISTO !
A CADA IMAGEM ... A CADA POEMA QUE DENUNCIAM COMO TENDO DIREITOS DE AUTOR ... EU FAREI OUTRA .
NÃO DESISTO  DE DIVULGAR O POETA E MEU PROFESSOR SEBASTIÃO DA GAMA  GRATUITAMENTE


TODOS OS ABUTRES E HIENAS QUE VIVEM   À SOMBRA DO NOME DO POETA E ULTIMAMENTE MANIPULANDO SUA VIÚVA ... PODEM ESPERAR SENTADOS .


Zé Boneco
Joaquim Afonso Fernandes d'Oliveira

RESSURREIÇÃO

Ressurreição
Poema de Sebastião da Gama

Senhor!...
Eu bem te vejo, apesar
da escuridão!
Inda me não tocou a tua mão,
mas bem na sinto, bem na sinto em meus cabelos,
numa carícia igual a um perfume ou um perdão.

Senhor!
Eu bem te vejo, apesar
da escuridão!
Que já se abriram cinco
(ou são cinquenta?...?
ou são quinhentas?---)
Estrelinhas azuis no Céu azul
- as Tuas cinco, ou não sei quantas, feridas
lavadas pelas águas lá de Cima.

Vejo-Te ainda incerto e vago
como um desenho sumido,
mas esta é, Jesus, a última das noites.
Há já três
(não Te lembras, Senhor, das bofetadas
e dos cravos nos pés?...)
que Te pregaram numa cruz
e que morreste.

Até logo, Senhor!
(Deixa ser longa a Noite e o Logo longo,
que é de noite que eu seco os meus espinhos
e cavo, na minh´alma, o Teu jardim.
Rompa tarde a Manhã de ao fim
da Tua minha Noite derradeira.

- Não quero é que Te rasgues novamente,
quando, no terceiro Dia longe - perto
misericordiosamente,
ressuscitares em mim.)

quarta-feira, 27 de maio de 2015

domingo, 22 de março de 2015

AS FONTES ( 22 DE MARÇO )




As Fontes



“Havia fontes na montanha.
Mas estavam fechadas.
Ignoradas,
beijavam só as veias da montanha.
Ora um dia
não sei que vento passou
que me ensinou
aquelas fontes que havia.
Eu tinha mãos e mocidade ;
só não sabia pra quê.
Fez-se nesse momento claridade.
Rasguei o ventre dos montes
e fiz correr as fontes
à vontade.
Então
veio quem tinha sede e quem não tinha.
De todas as aldeias
vieram, cantando as moças
encher as bilhas.
E eu fui também cantando ao som das águas ...
Cantavam as minhas mãos, cantavam as fontes.
Era um canto jucundo,
cheio de Sol.
Mas a meio da nota mais alegre
muita vez uma lágrima nascia.


( Ai quantos, quantos,
minha canção tornava mais conscientes
da sua melancolia
sem remédio !
Ai os que já perderam a coragem
de reclamar a sua conta de água !
Ai a mágoa
que lhes era meu hino !
Ai o insulto desumano
à sua melancolia !)
Era a meio do canto que surgia
seu travo amargo ...
Mas a meu lado, as águas
iam matando a sede de quem vinha ....

(Sebastião da Gama)

sábado, 21 de março de 2015

TRADIÇÃO ( 22 de Março - Dia da Árvore)


Tradição
Poema inédito ( Não publicado em Livro )
De Sebastião da Gama

Os engenheiros vieram, mediram, olharam…......
Havia árvores velhas…
Mandaram deitar abaixo
e os homens deitaram.
Sem lamentos, sem ais,
as árvores caíram…
Mas os engenheiros não puseram mais;
em seu lugar apenas
três cardos enfezados refloriram.
E os cardos vis são gritos de revolta
das sombras errantes pelo Ar;
das sombras que tinham por abrigos
aqueles freixos antigos
que o machado foi matar.
As sombras gritam, mas os engenheiros
+ Não põem freixos novos no lugar.
Tradição
Poema inédito ( Não publicado em Livro )
De Sebastião da Gama

 

sábado, 7 de março de 2015

AS FONTES


As Fontes

“Havia fontes na montanha.
Mas estavam fechadas.
Ignoradas,...
beijavam só as veias da montanha.

Ora um dia
não sei que vento passou
que me ensinou
aquelas fontes que havia.

Eu tinha mãos e mocidade ;
só não sabia pra quê.
Fez-se nesse momento claridade.

Rasguei o ventre dos montes
e fiz correr as fontes
à vontade.

Então
veio quem tinha sede e quem não tinha.
De todas as aldeias
vieram, cantando as moças
encher as bilhas.
E eu fui também cantando ao som das águas ...

Cantavam as minhas mãos, cantavam as fontes.
Era um canto jucundo,
cheio de Sol.
Mas a meio da nota mais alegre
muita vez uma lágrima nascia.

( Ai quantos, quantos,
minha canção tornava mais conscientes
da sua melancolia
sem remédio !
Ai os que já perderam a coragem
de reclamar a sua conta de água !
Ai a mágoa
que lhes era meu hino !
Ai o insulto desumano
à sua melancolia !)

Era a meio do canto que surgia
seu travo amargo ...

Mas a meu lado, as águas
iam matando a sede de quem vinha ....



(Sebastião da Gama)


terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

VIDA


Vida
Poema de Sebastião da Gama

Hoje, cá dentro, houve festa...
Alcatifei-me de veludo azul, ...
fiz pintar a Ternura os meus salões,
e pus cortinas de tule...
Mas não chamei grandes orquestras
nem um clarim, a proclamá-la:
mandei tocar, em mim,
uma música assim de procissão
que levou os meus sentidos
a nem sequer se sentirem, de embevecidos...

Hoje, cá dentro, houve festa...
E, se houve festa e veludos,
e musica azul, e tudo
quanto digo,
foi somente porque a Graça
desceu hoje a visitar-me.

E eu, que vivo de Infinito
as raras vezes que vivo;
eu, que me sinto cativo
no pouco espaço que habito,
onde a presença de dois,
por ser demais, me embaraça,
deixei logo o meu lugar,
para dar lugar à Graça.

Não tinha pés: tinha passos;
não tinha boca: era beijos;
não tinha voz: era como
se o folhado e a maresia
se tivessem combinado
pra cantar «Ave, Maria...»

Foi então que vivi; então que vi
os poucos metros que vão
da minha Serra às Estrelas:
é que eu, sendo tão pequeno
que nem às vezes me encontro,
andava ali a pairar,
e o meu fim estava nelas
e o meu princípio no Mar.

A Graça, cá dentro, era
a varinha de condão
que me guiava no Ar.
E que bem me conduzia!
Parecia que eu sentia
as mesmas ânsias e a alegria
da Noite quando, no ventre,
já sente os gritos do Dia.
E eu me vi (que não sei bem
se era eu ou se era a Graça
quem p’los meus olhos olhava);
e eu me vi, que me tomava
em tons de rosa esmaiada
—barra da saia da Tarde
que ainda bem não morreu
e já de si tem saudades;
e fui murmúrio do Mar
que reza o que eu lhe ensinei;
e fui perfume exalado
dos matos da minha Serra
— perfume que, modelado
às formas que tens, sem tê-las,
mostrou teu corpo perfeito:
esse perfume que eu era
desenhava-te o perfil;
por olhos, tinhas Estrelas;
meu carinho de pensar-te
era a curva do teu peito.

E a minha varinha maga
do perfume fez um grito
da Serra, ébria de si;
e eu, nesse grito, subi;
bati às portas do Céu,
mas era cedo demais
e caí.

Para pairar, em poalha
que não é oiro, mas sim
a palavra com que Deus
fechou-me as portas do Céu;
beijo a minha criação
quando beijo a minha Serra;
sou passadeira de mim
e nego, na Luz que sou,
que seja feito de terra.

Ai quem me dera morrer!
Liberto do que não sou,
viver a única vida
pra que Deus me destinou!
Dá-me a vida que me mate, Senhor!
Fica-me dentro pra sempre,
a guiar-me pelo Além!

E tu perdoa, se eu morro,
que é p’ra nascer, minha Mãe!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

PORTA ABERTA


Porta Aberta
Poema de Sebastião da Gama

Hoje, não !
Deixem-me estar aqui, sossegadinho,...
tomando o gosto às minhas Alegrias .
Há tantos outros dias
em que podem chamar-me !
E tantos, tantos,
em que tenho desejo de me dar
( Mais que desejo : sede ... )
sem que ninguém repare nos meus olhos
cansados de pedir !
Amanhã ou depois -- quando quiserem ...
Hoje, deixem-se só,
na paria , recolhido .
É tão grande este dia para mim ! ...
Mas se eu ouvir chorar ?
mas se eu vir criancinhas
com as mãos estendidas e uma queixa
na palidez precoce de um sorriso ?
Mas se homens tristes ...

Perdoai ! perdoai !, que me esquecia
de vós.
como se para vós o dia de hoje
não fosse um dia igual aos outros dias ! ...

sábado, 7 de fevereiro de 2015

CORTINAS



CORTINAS
Poema de Sebastião da Gama

Que a Morte, quando vier,
não venha matar um morto....
Quero morrer em pujança.
Quero que todos lamentem
a ceifa de uma esperança

- não sendo eu já de mim
nem de meu sonho também,
mas sendo um sonho já deles ;
já tão deles que hão-de crer
que o levantaram , tão seu
que, ao secar, lhes vai doer
e vai deixar
pedaços vivos nas mãos
( cristais quebrados rasgando-as ),
saudades vivas no olhar .

Quero morrer com os dedos
a quatro dedos do Céu,
pra que depois pensem que eu
só por morrer não cheguei,
só não cheguei por tração
( pra que não saibam que a Morte
foi a minha salvação )

Ai medo antigo que eu tenho
e só a mim, que entendo,
posso contar à vontade
não de o Céu não ser verdade
( meu sonho astral é tão grande
que, nem que fosse vazio,
meu sonho havia de encher
de céu
esse vazio sem fundo )
mas de se as asas partirem
antes do pano descido,
à vista de todo o mundo..

Como há-de ser bom morrer ,
suspenso lá nas alturas ! ...
Não vir cair na calçada,
de cabeça esmigalhada,
com lama, em sangue lavada,
nas mãos torcidas mas puras ! ...

Como há-de ser bom, não ser
preciso o Anjo descer
a este mundo
pra me levar ao meu fim !...
- Sem Se Deus bulir do Trono,
estende-me Sua Mão
e ao pé d'Ele logo estou :
que fique logo transporta
aquela mão de Infinito
que me faltou ;
que me faltou, mas baldou,
o medo antigo que eu grito .

Por isso, que a Morte seja
a força
que me não deixe cair
e se confunda
na mesma que me subiu.
Que eu morre em Glória prós meus
pobres irmãos , enlevados
em barata pasmaceira .
Que, quanto à Glória que eu quero
minha Glória verdadeira,
isso é comigo e com Deus ...

...e com Alguém
que é bem de mim, como eu sou,
e vive pra me encontrar,
porque os caminhos são tais
- pronde vem e pronde vou -
que, mesmo assim desiguais,
hão-de ter um certo sítio
em que passem de um só .

EM MEMÓRIA DO PROFESSOR E AMIGO








A 7 de Fevereiro morre em Lisboa, o poeta, professor e pedagogo Sebastião da Gama (1924-1952), natural de Azeitão. Licenciado em Filologia Românica, foi professor do Ensino técnico em Lisboa, Setúbal e Estremoz. Atingido pela tuberculose, foi viver para a Arrábida a conselho médico. A sua obra encontra-se ligada à Serra da Arrábida, onde vivia e que tomou por motivo poético de primeiro plano e à s...ua tragédia pessoal, motivada pela doença que o vitimou precocemente.
OBRAS: Serra-Mãe (poesia, 1945); Loas a Nossa Senhora da Arrábida (poesia, 1946); Cabo da Boa Esperança (poesia, 1947); O Segredo é Amar (1969); A Região dos Três Castelos (prosa, 1949); Campo Aberto (poesia, 1951); Pelo Sonho é que Vamos (1953); Diário (1958); Itinerário Paralelo (compilação de David Mourão-Ferreira, 1967); Cartas I (1994).

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A UMA RAPARIGA



A uma rapariga
Poema de Sebastião da Gama

Somos assim aos dezassete.
Sabemos lá que a Vida é ruim!...
A tudo amamos, tudo cremos.
Aos dezassete eu fui assim.

Depois, Acilda, os livros dizem,
dizem os velhos, dizem todos:
"A Vida é triste. a Vida leva,
a um e um, todos os sonhos."

Deixá-los lá falar os velhos,
deixá-los lá... A Vida é ruim?
Aos vinte e seis eu amo, eu creio.
Aos vinte e seis eu sou assim.

MANHÃ NO SADO


"Manhã no Sado",
Poema de Sebastião da Gama

Brancas, as velas
eram sonhos que o rio sonhava alto....
Meninas debruçadas em janelas,
viam-se, à flor azul das águas, as gaivotas.
E a Manhã quieta (sorrindo, linda, vinha vindo a Primavera…)
punha os pés melindrosos entre as conchas.
Derivavam jardins imponderáveis
dos seus passos de ninfa
e tremiam as conchas
de súbitas carícias.

Longe era tudo: o medo dos naufrágios,
as angústias dos homens, o desgosto,
os esgares das tragédias e comédias
de cada um, os lutos, as derrotas.
Longe a paz verdadeira das crianças
e a teimosia heróica dos que esperam.

Ali, à beira-rio,
de olhos só para o rio, de ouvidos surdos
ao que não é a música das águas,
um sossego alegórico persiste.
Nem o arfar das velas o perturba.
Nem o rumor dos seios capitosos
da Manhã, que nas águas desabrocham
e flutuam, doentes de perfume.
Nem a presença humana do Poeta
- sombra que a pouco e pouco se ilumina
e se dilui, anónima, na aragem…

Sebastião da Gama

RELATÓRIO


Imagem - Pintura de João Vaz
Relatório
Poema de Sebastião da Gama

Vou pelo Mar e levo enclavinhados...
os dedos num pedaço de madeira.
É da quilha, dos remos, ou do mastro?
Seja de aonde seja, se me ensina
que não desisto ainda de ir no Mar…

O’ glória de saber que o Mar termina
onde a minha coragem se acabar,
a ti dou quanto é meu!
Glória de por meus nervos garantir
o direito de escarnecer da Morte

quando a Morte julgar que me venceu!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

ITINERÁRIO


Itinerário
Poema de Sebastião da Gama

Meu caminho é por mim fora,
até chegar ao fim de mim...
a encontrar-me com Deus ...

Mas lá no fim
eu vou sentir-me tão outro.
tão igual
ao Senhor Deus que ali mora,
que hei-de ficar convencido
de que afinal
só Tu, Senhor, lá estás
e que eu fiquei para trás,
de cansado ou de perdido
no meu caminho comprido .

É só por mim é que eu vou
e as bermas do meu caminho,
são as passadas que dou .

E não me digam que não,
que eu não me importo de ir só ;
minha Esperança, na minha
voz comovida espelhada,
sabe encher a solidão
das curvas mudas da estrada .

HORA VERMELHA


Hora Vermelha
Poema de Sebastião da Gama

Por que vieste, pensamento?
Já me bastava o Mar violento,...
Já me bastava o Sol que ardia…
P’los meus sentidos escorria
não sei lá bem que seiva forte
que a carne toda me deixava
qual uma flor ou uma lava
num riso aberto contra a Morte.

Já me bastava tudo isto.
Mas tu vieste, pensamento,
e vieste duro, turbulento.
Vieste com formas e com sangue:
erectos seios de mulher,
as carnes róseas como frutos.

Boca rasgada num pedido
a que se quer e se não quer
dizer que não.
Os braços longos estendidos.
A mão em concha sobre o sexo
que nem a Vénus de Camões.

Aí!, pensamento,
deixa-me a calma da Poesia!
Aqui na praia só com ela,
virgem castíssima, sincera!…
Sua mão branca saberia
chamar cordeiro ao Mar violento,
Pôr meigo, meigo, o Sol que ardia.
Mas tu vieste, pensamento.
Tua nudez, que me obsidia,
logo, subtil, encheu de alento
velhos desejos recalcados,
beijos mordidos
antes de os ver a luz do Dia.

Vai-te depressa, pensamento!
Deixa-me a calma da Poesia.
Fique em minh’alma o só perfume
da cerca alegre de um convento.

Os meus sentidos embalados
numa suave melodia.
(Ah!, não nos quero desgrenhados
como quem volta de uma orgia).

E então meus lábios mais serenos
do que se orassem sobre um berço,
sorrindo à Vida,
sorrindo à Morte.
Ah!, não nos quero assim grosseiros,
ébrios, torcidos,
como depois de um vinho forte.

OBSESSÃO


Obsessão
Poema de Sebastião da Gama

Quero a Noite completa, desumana.
A Noite anterior. A Noite virgem ......
de mim. A Noite pura. Quero a Noite,
aonde é impossível encontrar-te.

Que não há rio nem rua nem montanha
nem floresta nem prado nem jardim
nem pensamento algum nem livro algum
em que não me apareças, sorridente.
 

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

CANÇÃO DA FELICIDADE


CANÇÃO DA FELICIDADE
Poema de Sebastião da Gama
( Imagem " Rosa Albardeira" )

... Pois à minha vida...
nada lhe faltava.
Minha taça estava
toda ela cheia.

Nem fazia ideia
que pudesse haver
mais algum prazer
que aquele que eu tinha.

Pela manhãzinha
pela tarde quente,
ninguém mais contente
pela rua andava.

As mãos, se as fechava,
as mãos, se as abria,
tudo quanto havia
tudo havia nelas.

Não pedia Estrelas,
não pedia flores,
não pedia amores,
porque os tinha já.

Que de enigmas há!
Como a Vida tem
coisas que a ninguém
passam p’la cabeça!

Antes que me esqueça
deixem-me contar:
hoje fui passear,
manhãzinha ainda,

e vi a mais linda
de todas as rosas:
pétalas sedosas,
vermelhas, brilhantes...

E eu, que tinha dantes
quanto me bastava,
nada me faltava
para ser feliz,

eu, que nunca quis
mais do que me deu
o favor do Céu
e o da humana gente,

fiquei tão contente
como se essa rosa
fosse misteriosa
flor que eu desejasse;

como se andasse
à procura dela
por faltar só ela
para ser feliz...
 

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

SEM TÍTULO


Sem Título
Poema de Sebastião da Gama

A cada verso nasço ...
É cada verso o meu primeiro grito...
à Vida ...

Depois, Se caminho apalpando e aos tombos,
e se, aflito não atino e me perco até de mim .
- é que, os raios do Sol cegaram, despiedados,
meus olhos mal abertos , costumados
à escuridão do ventre de onde vim .

AVÉ MANHÃ


« Avé, Manhã ... »
Poema de Sebastião da Gama

A Manhã de hoje, branda,
parece Nossa Senhora ... ...

Cantem-lhe os outros verso bem rimado...
- Eu , cá por mim, humilde , mais não sei
que continuar aqui ajoelhado ...

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

SEM TITULO 2




Sem Título 2.

Da minha janela
vê-se a Poesia.
Não te digo, não,...
se é bonita ou feia,
se é azul ou branca,
nem que formas tem.
Queres conhecê-la?
Deixa o teu bordado,
vem para o meu lado,
que já podes vê-la
com teus próprios olhos.

Da minha janela
vê-se a Poesia...
Outro que te diga
se é bonita ou feia.

Sebastião da Gama

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

ELA VEIO ...


ELA VEIO ( A Morte )
Poema de Sebastião da Gama

NOTA : Permitam-me uma nota . Este Poema publicado no Livro "Itinerário Paralelo " , não tem título . O manuscrito tem . Estou-o digitando com Dor e Respeito e, de momento, não me sinto com coragem de digitar mais Poemas .
...
O Poema

Como a Luz, como a Sombra, como a Vaga,
como a Noite ...
Foi assim que ela veio. Subtilmente
me enredou na volúpia misteriosa
das suas falas mansas quase mudas .
Não mais teve sentido o meu relógio.
Eram folhas no Outono as folhas brancas
do calendário.
Afogado e perdido sem remédio,
só me ficou de fora a mão direita
para deixar escritos estes versos .

OBCESSÃO


Obsessão
Poema de Sebastião da Gama

Quero a Noite completa, desumana.
A Noite anterior. A Noite virgem ......
de mim. A Noite pura. Quero a Noite,
aonde é impossível encontrar-te.

Que não há rio nem rua nem montanha
nem floresta nem prado nem jardim
nem pensamento algum nem livro algum
em que não me apareças, sorridente.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

FLORBELA


Florbela
(em sua memória)

Sou eu, Florbela! Aquele que buscaste.
Falam de mim Teus versos de Menina....
Tua boca p'ra mim se abriu, divina,
mas foi só o Luar que Tu beijaste.

Hás-de voltar, Florbela!… Em débil haste,
por entre os trigos cresce, purpurina,
a mais fresca papoila da campina
que, só por me veres, não cortaste.

Eu tenho três mil anos: sou Poeta.
Surgi dos lábios secos dum asceta,
de uma oração que Deus deixou de parte.

Redimi tantos corpos, tantas vidas
neles vivi, que sinto já nascidas
asas com que subir para alcançar-Te

PELO SONHO É QUE VAMOS


Pelo Sonho é que vamos ...

Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos, não chegamos?...
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama

LARGO DO ESPÍRITO SANTO , 2 2º


Largo do Espirito Santo, 2, 2º
Poema de Sebastião da Gama

Nem mais, nem menos: tudo tal e qual
o sonho desmedido que mantinhas....
Só não sonharas estas andorinhas
que temos no beiral.

E moramos num largo... E o nome lindo
que o nosso largo tem!
Com isto não contáramos também.
(Éramos dois sonhando e exigindo).

Da nossa casa o Alentejo é verde.
É atirar os olhos: São searas,
são olivais, são hortas ... E pensaras
que haviam nossos de ter sede!

E o pão da nossa mesa! E o pucarinho
que nos dá de beber!... E os mil desenhos
da nossa loiça: flores, peixes castanhos,
dois pássaros cantando sobre um ninho...

E o nosso quarto? Agora podes dar-me
teu corpo sem receio ou amargura.
Olha como a Senhora da moldura
sorri à nossa alma e à nossa carne.

Em tudo, ó Companheira,
a nossa casa é bem a nossa casa.
Até nas flores. Até no azinho em brasa
que geme na lareira.

Deus quis. E nós ao sonho erguemos muros,
rasguei janelas eu e tu bordaste
as cortinas. Depois, ó flor na haste,
foi colher-te e ficamos ambos puros.

Puros, Amor — e à espera.
E serenos. Também a nossa casa.
(Há de bater-lhe à porta com a asa
um anjo de sangue e carne verdadeira).

SONETO DE ANTÓNIO


Soneto de António

António! dorme... Já se acabou a tosse.
Não mais ocultarás os teus soluços,
quando passarem rapazes...
com os lábios vermelhos e saudáveis.

Dorme... Carlota vela à tua cabeceira.
("Ia tão seco o meu querido Menino!...
Mas toda a gente agora fala dele;
que foi um grande Poeta ou lá o que é").

Ouve António: sempre é verdade a Lua Nova?
E os Anjinhos? E a tua
Nossa Senhora linda?

- Diz-me que sim, mesmo se for mentira...
Eu acredito, eu acredito, António!,
e é por isso que vou vivendo ainda.

Sebastião da Gama

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

ORAÇÃO DA TARDE


Oração da Tarde
Poema de Sebastião da Gama

Ao crepúsculo, a Serra é catedral
onde o Órgão-Silêncio salmodia....
A própria Luz ergueu « Ave-Maria»
e o Mar tomou as cores de um vitral.

To sente o Senhor e se extasia ...
O Sol queimou os matos pelo Vale
e desprendeu incenso, Espiritual
é mãos-postas a rude penedia.
E eu também quero ser da Oração ...
- Com folhados na alma, pus a mão
na minha harpa e a música ascendeu

Ai a minha alegria-de-menino,
quando, por só, então, se ouvir no Céu,
ajoelhado, deixei de ouvir meu hino ! ...

LÍRICA


Lírica
Poema de Sebastião da Gama

Lá vem nascendo a Manhã ...
...
(Lá estou eu no berço ...
sonhando e sorrindo lindo,
e a minha mãe a beijar-me
e o seu beijo a não ser mais
que o acidente mais lindo
do sonho lindo que eu sonho ... )

ROMANCE


Romance
Poema de Sebastião da Gama

Era uma vez nós os dois ...
...
Comungámos os dois solenemente,
mas a hóstia desfez-se-nos na boca,
porque era pó, pó como a gente .

Bebemos Sol p'la mesma taça clara,
pra vencermos, na grande Linha Recta,
os pasmos as fraquezas e os medos.
E a taça esmigalhou-se em nossos dedos ...
Depois ...
os dedos nem sequer deitaram sangue,
porque éramos mentira nós os dois .

( In Itinerário Paralelo )

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

HARPA


HARPA
Poema de Sebastião da Gama

Olha, Senhor!,
o indigno cantor que Tu fadaste...
e se não pode erguer
à sua própria altura!...

- Virgem das minhas mãos, a Harpa acende
novos brilhos no Sol, traduz em cor
a saudade dos sons que não desprende...
Tu a fizeste, Deus!, para os meus dedos;
a glória do Teu gesto criador
Tu a quiseste partilhar
na glória quase igual de o entender.

E foi com Teu amor que retesaste as cordas,
com Teu amor as afinaste
e me chamaste
à tarefa sublime de tangê-las.

E eu sinto o Frémito, Senhor!
Sinto o sopro que Tu me inoculaste
ao dar-me a Tua bênção.
Dentro de mim é Som: o eco longo
de uma nota sem fim e sem começo.

Mas só cá dentro o Frémito ressoa...
Que não consegue minha mão,
que o lodo fez e o lodo maculou,
passar à Harpa a Grande Vibração.

- Vem lavar-me, Senhor!, no azul do Mar.
Filtra a minha impureza na limpidez do Teu olhar,
a luz clara que entornas pelos montes da minha Serra verde.

Deixa outro cantar meu próprio Canto,
e seja eu somente, assim purificado
e liberto do corpo, enfim, mais uma corda
na Harpa que me tinhas destinado.

Ai o cantor indigno que fadaste!...
Ai que a Grande Vibração,
se o não redimes,
estéril morrerá...

- Que eu seja apenas Som que um outro cante
e, na renúncia de mim,
igual a mim um dia me alevante!...

ORAÇÃO DE TODAS AS HORAS


Oração de Todas as Horas

Agora,
que eu já não sei andar nas trevas,
não me roubes a Tua Mão, Senhor,...
por piedade!
Voltar às trevas não sei,
e sem a Tua Mão não poderei
dar um só passo em tanta Claridade.

Pelas Tuas feridas minhas, pelas tristezas
de Tua Mãe, Jesus.
não me deixes, no meio desta Luz,
de pernas presas...

Não me deixes ficar
com o Caminho todo iluminado
e eu parado e tão cansado
como se fosse a andar ...

Sebastião da Gama

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A UMA RAPARIGA



A uma rapariga
Poema de Sebastião da Gama

Somos assim aos dezassete.
Sabemos lá que a Vida é ruim!...
A tudo amamos, tudo cremos.
Aos dezassete eu fui assim.

Depois, Acilda, os livros dizem,
dizem os velhos, dizem todos:
"A Vida é triste. a Vida leva,
a um e um, todos os sonhos."

Deixá-los lá falar os velhos,
deixá-los lá... A Vida é ruim?
Aos vinte e seis eu amo, eu creio.
Aos vinte e seis eu sou assim.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

MADRIGAL


Madrigal

A minha história é simples.
A tua, meu Amor,
é bem mais simples ainda:...

"Era uma vez uma flor.
Nasceu à beira de um Poeta..."

Vês como é simples e linda?
(O resto conto depois;
mas tão a sós, tão de manso
que só escutemos os dois).

Sebastião da Gama

IMAGEM


IMAGEM
Poema de Sebastião da Gama

Ó corpo feito à imagem
de meu desejo e meu amor, ...
que vais comigo de viagem
p’ra onde eu for,

que mar é este em que andamos,
há três noites bem contadas
e não tem ventos nem escolhos
nem ondas alevantadas?

que sol é este, que aquece,
mas sereno, tão sereno,
que nem te põe menos branca
nem a mim põe mais moreno?

que paz é esta, nas horas
mais violentas e bravas?
(Sorrias: ias falar.
sorrias e não falavas.)

que porto é este? esta ilha?
que terra é esta em que estamos?
(Era uma nuvem, de longe...
Deixou de o ser, mal chegámos.)

e este caminho, onde leva?
e onde acaba este jardim
que é tão em mim que é em ti?
que é tão em ti que é em mim?...

Ó alma feita à imagem
do sonho que me desmede
— que sede é esta que temos
que é mais água do que sede?

(in Sonho, 47)

NUNCA O AMOR FOI BREVE


NUNCA O AMOR FOI BREVE
Poema de Sebastião da Gama

Nunca o Amor foi breve,
quando deu fruto....
(Cantai, aves do ar,
em volta de seu berço!)

Sagre-o a Dor, nenhum Amor é vão.
Exulta, voz das ondas!
- O seu Amor floriu, deu fruto,
como as árvores.

Cantai, aves do ar,
em volta do seu berço.
Cintilantes do Sol, saltai ao Sol,
peixes do Mar.

Nunca o Amor foi triste. Nem a Vida
foi menos bela.
Baila contente, lágrima!,
baila nos olhos dela.