domingo, 22 de março de 2015

AS FONTES ( 22 DE MARÇO )




As Fontes



“Havia fontes na montanha.
Mas estavam fechadas.
Ignoradas,
beijavam só as veias da montanha.
Ora um dia
não sei que vento passou
que me ensinou
aquelas fontes que havia.
Eu tinha mãos e mocidade ;
só não sabia pra quê.
Fez-se nesse momento claridade.
Rasguei o ventre dos montes
e fiz correr as fontes
à vontade.
Então
veio quem tinha sede e quem não tinha.
De todas as aldeias
vieram, cantando as moças
encher as bilhas.
E eu fui também cantando ao som das águas ...
Cantavam as minhas mãos, cantavam as fontes.
Era um canto jucundo,
cheio de Sol.
Mas a meio da nota mais alegre
muita vez uma lágrima nascia.


( Ai quantos, quantos,
minha canção tornava mais conscientes
da sua melancolia
sem remédio !
Ai os que já perderam a coragem
de reclamar a sua conta de água !
Ai a mágoa
que lhes era meu hino !
Ai o insulto desumano
à sua melancolia !)
Era a meio do canto que surgia
seu travo amargo ...
Mas a meu lado, as águas
iam matando a sede de quem vinha ....

(Sebastião da Gama)

sábado, 21 de março de 2015

TRADIÇÃO ( 22 de Março - Dia da Árvore)


Tradição
Poema inédito ( Não publicado em Livro )
De Sebastião da Gama

Os engenheiros vieram, mediram, olharam…......
Havia árvores velhas…
Mandaram deitar abaixo
e os homens deitaram.
Sem lamentos, sem ais,
as árvores caíram…
Mas os engenheiros não puseram mais;
em seu lugar apenas
três cardos enfezados refloriram.
E os cardos vis são gritos de revolta
das sombras errantes pelo Ar;
das sombras que tinham por abrigos
aqueles freixos antigos
que o machado foi matar.
As sombras gritam, mas os engenheiros
+ Não põem freixos novos no lugar.
Tradição
Poema inédito ( Não publicado em Livro )
De Sebastião da Gama

 

sábado, 7 de março de 2015

AS FONTES


As Fontes

“Havia fontes na montanha.
Mas estavam fechadas.
Ignoradas,...
beijavam só as veias da montanha.

Ora um dia
não sei que vento passou
que me ensinou
aquelas fontes que havia.

Eu tinha mãos e mocidade ;
só não sabia pra quê.
Fez-se nesse momento claridade.

Rasguei o ventre dos montes
e fiz correr as fontes
à vontade.

Então
veio quem tinha sede e quem não tinha.
De todas as aldeias
vieram, cantando as moças
encher as bilhas.
E eu fui também cantando ao som das águas ...

Cantavam as minhas mãos, cantavam as fontes.
Era um canto jucundo,
cheio de Sol.
Mas a meio da nota mais alegre
muita vez uma lágrima nascia.

( Ai quantos, quantos,
minha canção tornava mais conscientes
da sua melancolia
sem remédio !
Ai os que já perderam a coragem
de reclamar a sua conta de água !
Ai a mágoa
que lhes era meu hino !
Ai o insulto desumano
à sua melancolia !)

Era a meio do canto que surgia
seu travo amargo ...

Mas a meu lado, as águas
iam matando a sede de quem vinha ....



(Sebastião da Gama)