As Fontes
“Havia fontes na montanha.
Mas estavam fechadas.
Ignoradas,...
beijavam só as veias da montanha.
Ora um dia
não sei que vento passou
que me ensinou
aquelas fontes que havia.
Eu tinha mãos e mocidade ;
só não sabia pra quê.
Fez-se nesse momento claridade.
Rasguei o ventre dos montes
e fiz correr as fontes
à vontade.
Então
veio quem tinha sede e quem não tinha.
De todas as aldeias
vieram, cantando as moças
encher as bilhas.
E eu fui também cantando ao som das águas ...
Cantavam as minhas mãos, cantavam as fontes.
Era um canto jucundo,
cheio de Sol.
Mas a meio da nota mais alegre
muita vez uma lágrima nascia.
( Ai quantos, quantos,
minha canção tornava mais conscientes
da sua melancolia
sem remédio !
Ai os que já perderam a coragem
de reclamar a sua conta de água !
Ai a mágoa
que lhes era meu hino !
Ai o insulto desumano
à sua melancolia !)
Era a meio do canto que surgia
seu travo amargo ...
Mas a meu lado, as águas
iam matando a sede de quem vinha ....
(Sebastião da Gama)
“Havia fontes na montanha.
Mas estavam fechadas.
Ignoradas,...
beijavam só as veias da montanha.
Ora um dia
não sei que vento passou
que me ensinou
aquelas fontes que havia.
Eu tinha mãos e mocidade ;
só não sabia pra quê.
Fez-se nesse momento claridade.
Rasguei o ventre dos montes
e fiz correr as fontes
à vontade.
Então
veio quem tinha sede e quem não tinha.
De todas as aldeias
vieram, cantando as moças
encher as bilhas.
E eu fui também cantando ao som das águas ...
Cantavam as minhas mãos, cantavam as fontes.
Era um canto jucundo,
cheio de Sol.
Mas a meio da nota mais alegre
muita vez uma lágrima nascia.
( Ai quantos, quantos,
minha canção tornava mais conscientes
da sua melancolia
sem remédio !
Ai os que já perderam a coragem
de reclamar a sua conta de água !
Ai a mágoa
que lhes era meu hino !
Ai o insulto desumano
à sua melancolia !)
Era a meio do canto que surgia
seu travo amargo ...
Mas a meu lado, as águas
iam matando a sede de quem vinha ....
(Sebastião da Gama)
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