domingo, 13 de julho de 2014

CRISTO

Cristo
Poema de Sebastião da Gama

À minha cabeceira o Cristo morre
de puro dó. Silenciosamente,...
da cabeça, caída para a frente
um fio de sangue, ainda vivo, escorre.

Puseram-n'O ali como um remorso.
Não quiseram matá-Lo de uma vez,
pra m'O porem ali como um remorso.
Tem os olhos abertos. Tristes ... tristes ...
E a Sua boca quase que me fala,
como quem repreende meigamente .

Quando me vou deitar, já nem O olho.
Apago a minha vela bruscamente,
pra não ver os Seus olhos que me doem
como um remorso antigo .

Por que não ficou morto no Calvário,
apodrecendo aos Astros indiferentes?
Por que veio acabar para o meu quarto,
com estes olhos suaves que me acusam,
com estes lábios tristes que me pedem
que O não deixe morrer tão sem-razão ?

Tem quase dois mil anos o meu quarto.
E em mais de mil das noites destes anos
eu apaguei a vela pra não ver
a agonia do Cristo, que me acusa.

Mas Ele rasga a escuridão da Noite.
Mas Ele rasga o sono em que me oculto
e vem, solto da cruz a que O prendi,
continuar, no fundo da minh'alma .
Seu estertor .
Seus olhos brilham mais , na escuridão ...
Pra de todo morrer ,
como que espera apenas o segundo
de eu Lhe pedir perdão.

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