domingo, 13 de julho de 2014

ETERNIDADE

Eternidade
Poema de Sebastião da Gama

Ai ó presença de Mim,
tão raras e tão distantes !...
Ai minhas longas ausências,
durante as quais só sou isto :
um homenzinho terreno,
tão comedido e pequeno
que até duvido se Existo.

Mas, sempre que me despede
o que eu sou de o que eu não sou,
me deixa nas mãos , marcadas,
ígneas profundas dedadas.
Por isso sei que é Verdade
e, se a descrença me toca,
beijo as dedadas nas mãos
até me arder toda a boca .

Ai meu Amor, que juraste,
ser só do Outro que encubro,
e tão alto te escondeste
que só nas visitas d'Este,
p'los seus olhos , te descubro !
-
Esses momentos de Mim,
tão raros e tão diamantes,
esses momentos-distantes,
é minha Glória e meu Fim,
a que não posso escapar,
uni-los em um colar
para o teu colo de garça .

Minhas mãos e tuas mãos,
que se fogem
dês que a Carne me prendeu
quando o colar for completo
serão fecho do colar ....
... na nossa Noite, Amor ! contada
de tanta Luz, tanta Estrela,
que inda Deus não acendeu
os Astros todos pra Ela.

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