Junto do Mar canta a Cigarra.
Poema de Sebastião da Gama
Canta, p’ra iludir
a fome e a solidão;...
p’ra fingir que tem pão
e p’ra fingir que está acompanhada.
Tremeluzem os Astros no céu nítido:
Dona Cigarra faz serão.
Como há-de ela dormir, se a vida é curta?
Cigarra que se preza, quando morre
não deve estar a meio da canção.
Ninguém pára a saber por que é que canta.
Ninguém lhe dá ouvidos nem conforto.
Melhor, assim: assim, não perde tempo
quem não pode cantar depois de morto.
A parte que lhe coube por destino,
tem de morrer deixando-a já cantada.
Que faz que a não escutem nem lhe acudam?
É preciso é sentir que se está vivo.
É preciso é que as asas que sosseguem
o tenham merecido.
Canta a Cigarra à sombra da montanha
e à sua voz a solidão alastra,
deixa-a mais longe, sempre, dos que dormem.
Só a noite a entende e agasalha.
Mas a voz não acusa nem se cansa
nem laiva de azedume ou amargura.
Ei-la crucificada de indiferença.
Serve-lhe a Noite de mortalha.
Morno ainda do Canto,
seu coração evola-se em ternura
que vai poisar no sonho dos que dormem...”
Poema de Sebastião da Gama
Canta, p’ra iludir
a fome e a solidão;...
p’ra fingir que tem pão
e p’ra fingir que está acompanhada.
Tremeluzem os Astros no céu nítido:
Dona Cigarra faz serão.
Como há-de ela dormir, se a vida é curta?
Cigarra que se preza, quando morre
não deve estar a meio da canção.
Ninguém pára a saber por que é que canta.
Ninguém lhe dá ouvidos nem conforto.
Melhor, assim: assim, não perde tempo
quem não pode cantar depois de morto.
A parte que lhe coube por destino,
tem de morrer deixando-a já cantada.
Que faz que a não escutem nem lhe acudam?
É preciso é sentir que se está vivo.
É preciso é que as asas que sosseguem
o tenham merecido.
Canta a Cigarra à sombra da montanha
e à sua voz a solidão alastra,
deixa-a mais longe, sempre, dos que dormem.
Só a noite a entende e agasalha.
Mas a voz não acusa nem se cansa
nem laiva de azedume ou amargura.
Ei-la crucificada de indiferença.
Serve-lhe a Noite de mortalha.
Morno ainda do Canto,
seu coração evola-se em ternura
que vai poisar no sonho dos que dormem...”
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