quarta-feira, 5 de novembro de 2014


Canção do Vento Norte
Poema de Sebastião da Gama

Vento Norte !,
Vento Norte !...
Não quero já, noutro berço
que o Vento Norte !
O que estilhaça os navios
e enche de pranto os rosais ;
me traz notícias de crimes
e faz tremer como vimes
os meus lábios ...
Não mais a vida pacata,
Sentadinha, sentadinha,
que não é vida nem é nada .
Que me doa, mas que eu viva !
Que importa os gritos que der,
se bem maiores os deu
minha Mãe, pra me parir ?

Vem-me embalar, Vento Norte !,
nem que me quebres o berço.
Vamos os dois por i fora
pregar partidas aos lagos.
Minhas horas descansadas,
minhas horas morrinhentas,
só vividas
no mostrador do relógio,
eu vos renego e acuso
por crime de alta traição
contra a minha mocidade.

Agora que venha o Vento
apagar vossa lembrança !
O vento Norte ...
O que desfolha os rosais
e põe barcos em frangalhos
e rasga nossos cabelos
como a bandeira de Guerra,
mas varre as nuvens
para a gente ver o Sol
e segreda a meus ouvidos
coisas de tanta verdade
que já não creio que o Vento
não seja da minha idade ...

2 comentários: