quarta-feira, 17 de setembro de 2014

PÃO NOSSO DE CADA DIA


Pão Nosso de Cada Dia
Poema de Sebastião da Gama

Chega até aqui o barulho do Mundo.
Só as vozes alegres, As tristes, essas, não....
.. Fazem um sussurro tão leve, tão íntimo ,
que só imaginando-as consigo ouvi-las.
Mas elas é que são mais verdadeiras
( mais verdadeiras, não ; mais constantes ) .

Ah! , é preciso acabar com isto.
Erguer as mãos (mas de protesto,
não de súplica pra Deus ,
a gritar : « Queremos a Vida, queremos a Felicidade.
Queremos o pão nosso de cada dia .

Nós que trabalhamos , que desejamos,
nós que merecemos. Senhor , nós que merecemos , queremos a vida , queremos a Felicidade .

Senhor, eu sou Poeta .Tenho pão e tenho vinho.
Posso gozar os Teus rios, as Tuas serras ,
a liberdade que me deste.
Sou quase feliz . Mas até onde estou
chegam, nítidas, as vozes de alguns como eu
e chegam , adivinhadas as dos tristes,
as dos que não têm nada
senão o direito de serem felizes também .

Eu aceito, Senhor,
que seja impossível compreender-Te .
E sei que que há para todas horas que são aleluias
-- mesmo para os mais desgraçados .
É enorme .
é grandioso a gente não compreender nada disto.

E no entanto minha incompreensão grandiosa,
minha aceitação grandiosa,
num instante se abatem. Simplesmente
porque tem menino magro, lá em baixo
no Mundo pediu-me pão.
Triste pediu-me pão,
como se o pão não devera ser gratuito como o Sol ...
 

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